quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Caridadezinha

Há muitos anos atrás, um professor meu de faculdade dizia numa avaliação minha "sabes qual é o problema de Portugal? Está cheio de caridadezinha". Achei durante muito tempo, que a afirmação era exagerada. Foi preciso que eu crescesse um bocadinho para perceber que não está.

Foi preciso que percebesse quantas pessoas acham que a sua quota parte de caridade fica preenchida quando compram postais da Unicef, quando compram o peluche/relógio/cuecas às risquinhas cujo lucro remete em 0,000003% para ajudar criacinhas em África, ou que admira muito a figura do jet set, tão boazinha, que ganha ao mês o que nunca conseguiremos juntar ao longo da vida e que deu a cara para uma campanha solidária sem cobrar cachet. Quanta gente nunca ajuda as associações de animais, porque acha que primeiro estão as pessoas, mas também não pega num saco do Banco Alimentar porque acha que todos os voluntários vão levar comida para casa?

Gente boa é a Ana dos anjinhos de Natal, que decerto perderá anos de vida com o cansaço e stress que uma campanha de entrega de prendas a mais de 1000 crianças pode criar, gente boa é quem perde todos os seus tempos livres em associações de animais, lavando, alimentando e brincando com animais que os outros largam à porta dos centros ou num qualquer caixote do lixo. Gente boa é quem sai de casa à noite, no frio, quando todos os outros já calçaram o seu chinelo e vão distribuir refeições aos sem-abrigo.

Já conheci todas estas pessoas e eu faço muito pouco comparado com qualquer uma delas, por isso acho que todos temos de ser muito humildes antes de nos acharmos o supra-sumo da bondade só porque deixamos roupa velha num centro paroquial.

4 comentários:

  1. Gostava de ser capaz de mais, se calhar até era, mas pronto. Mas admiro muito essas pessoas, ó se admiro. A Ana dos anjinhos deve andar numa fona. Já fiquei sossegada de ver que o nº dos meus não consta dos faltosos (podia ter havido um azar, a gente sabe lá), mas fiquei tristíssima com a quantidade de desistências. Não se faz.

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  2. não tenho mais a acrescentar. Gostei muito deste post.

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  3. Izzie, ainda acabei por ir comprar à pressa um presente para uma dessas desistências. Nem comprei o que o miudo queria, mas foi melhor que nada. Se as pessoas vêem que é um presente demasiado caro ou que não vão conseguir, ao menos que informem né? Ou então darem outra coisa.

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Digo eu de que: