quarta-feira, 28 de maio de 2014

Havia uma linha que separava


Há uns anos atrás uma amiga minha teve a infelicidade de os avós lhe morrerem com um mês de diferença. A piada foi que no primeiro funeral a funerária deu-lhe um cartão de desconto para o próximo e ela nunca pensou que o iria usar tão rápido. Eu sou a pessoa que acha o cartão das farmácias mórbido.

Recentemente soube através de uma colega que uma conhecida funerária da nossa praça fez uma campanha de charme no centro de dia onde tem um familiar. Houve um pouco de tudo, desde o emocionante filme de um senhor que morria no meio da rua mas que felizmente já tinha o seu funeral pago até histórias de vida contadas na primeira pessoa (afinal de contas, até os melhores morrem). Esse era aliás um dos objectivos da visita, recolher histórias de vida e a respectiva autorização por escrito para contá-las na sua divulgação (ou quiçá, num fantástico funeral, afinal de contas, it's my party). 

O segundo objectivo é óbvio, como maomé não vai à montanha, foi a montanha a maomé: recolher reservas (e respectivo pagamento) de funerais. Tudo escolhido pelo vivo, que poderia ficar descansado, se morresse no meio da rua não ficaria ali caído porque alguém havia de prontamente ir buscar o seu corpinho sem vida. Havia de tudo em carteira, desde a opção de cremação a uma brochura com caixões à escolha. 

Acho que metade do público atento nem percebeu muito bem o objectivo, mas acharam a senhora muito simpática, muito disponível e que até vinha sussurrar ao ouvido quando eles não tinham ouvido bem.

Sugiro IPO. Ou sei lá, os serviços de neonatologia. Caixões pequeninos, vendam-nos à dúzia. Não, há que ir mais além: urgências. Ai sei lá, tanta oferta. Afinal a gente morrer né.

1 comentário:

  1. LOL, dinheiro a quanto obrigas! (a cena mais mórbida que já vi foi quando uma pessoa comprou ainda em vida uma "gaveta" num cemitério... tudo normal não fosse o facto da pessoa em questão ter logo posto uma foto sua na dita campa. Sério, fiquei sem palavras.

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