segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

As coisas são como são


Um milhão e meio de pessoas manifestaram-se em Paris e quase três milhões em toda a França contra o terrorismo. É maravilhoso. Contudo, é uma pena que o tenham feito no seguimento da morte de 12 pessoas da redacção do jornal Charlie Hebdo mas que a mesma revolta nunca lhes tenha surgido pelos milhares que morreram e continuam a morrer na Síria, no Iraque ou no Paquistão, onde houve, num passado não muito longínquo, um ataque brutal a crianças e adolescentes, pelas mãos do mesmo fanatismo.

Será hipócrita? Prefiro acreditar que quer queiramos quer não, a nossa empatia está muito limitada à localização geográfica e também ao que queremos ver e saber do que se passa no mundo*.

Será preciso que o terrorismo nos bata à porta para que o possamos vencer?


*A propósito, um texto muito bonito partilhado publicamente no facebook sobre a "vergonha do viajante".

2 comentários:

  1. Eu acho que a manifestação a que assistimos ontem à tarde nas ruas de Paris foi muito mais do que a solidariedade por 12 pessoas que nos são mais próximas do que as 12 que morrem todos os dias, pelo mesmo motivo, noutros pontos do planeta. Aquilo que aquelas 12 pessoas simbolizavam (e também por isso se fala muito daquelas 12 e não tanto das que morreram no dia seguinte no supermercado) é simplesmente aquele que é considerado por muitos como o valor fundamental da nossa civilização e das sociedades democráticas. E ainda mais em França, onde está mais que em qualquer lado ligado a um espírito republicano que nem nós entendemos muito bem. Mas que é profundo e maior que tudo.
    Infelizmente não foi o primeiro atentado na Europa, nem aquele em que morreu mais gente, mas foi certamente aquele que acertou mais forte na base dos nossos princípios e ideais.

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    1. Não estou a desvalorizar a manifestação pela liberdade de expressão. É sempre emotivo e simbólico quando milhares se juntam em prol de uma causa, seja que causa for. Mas na Europa também defendemos acerrimamente o valor da vida humana e os direitos das crianças e ninguém saiu à rua para se manifestar pelos atentados de Peshawar. Não é uma crítica, eu própria me revejo nisto, é um desabafo e uma constatação.

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