terça-feira, 30 de junho de 2015

Os que perdem, os que partem.

No outro dia vi um documentário sobre a história do Buddha. Um principe, perde a mãe com uma semana de vida e o pai decide cercá-lo de todos os confortos materiais possíveis, na esperança que assim ele nunca se interesse com a vida para lá das paredes do palácio. Um dia o jovem principe sai e percebe: as pessoas passam dificuldades, as pessoas adoecem, as pessoas morrem. Estamos condenados a uma vida de sofrimento e não há como escapar, conclui ele. Agora multipliquem isto ao infinito: o homem acreditava na reencarnação. Não havia suicídio que o auxiliasse. Queria uma resposta, e não era fácil: isto tinha que fazer sentido e tinha que haver maneira de escapar disto. E em busca da resposta ele deixa tudo para trás: deixa a mulher, o filho, o pai, o palácio e toda a riqueza, e parte.

Dei-me conta, percebo pouco de sofrimento. Nunca fui muito próxima da doença ou do sofrimento físico. Não tenho medo de morrer. Entendo melhor o sofrimento psíquico, mas ainda assim acho que a palavra sofrimento não lhe encaixa muito bem. O sofrimento não é uma palavra com que me vista. Percebi então que me encaixa melhor a palavra perda. A ausência. A partida do outro. As despedidas. Ou a falta delas. Entendo melhor o sofrimento daquelas três pessoas que ficaram para trás quando um principe decidiu partir. Esse é o único tipo de sofrimento que eu entendo. E também não tenho ainda uma resposta.

Neste momento três amigas diferentes, com idades diferentes e por motivos diferentes estão em vias de perder a mãe. Uma diz: se ao menos não fosse tão nova. A outra diz: se ao menos não fosse numa cama de hospital. A outra: se ao menos estivesse consciente. E eu digo: se ao menos nunca tivéssemos que ver ninguém partir.

3 comentários:

  1. Este post está tão bom e tão bonito. E tão triste.

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  2. Fiquei sem palavras Fuschia. E logo eu, que conheço tão bem a perda, que já convivi tanto com o sofrimento e a doença de quem me é próximo. um beijinho

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  3. Mas ainda não desisti de encontrar uma resposta ;)

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Digo eu de que: