sexta-feira, 31 de julho de 2015

All my life I've been searching for something

"I'm taking a break from setting goals"
from Humans of New York

Durante um jantar de amigos iniciei conversa com a pessoa ao meu lado. Começámos por falar de filhos, trabalho, produtividade, emigrar ou não, e de repente a conversa foi parar à carreira. A carreira que ele estava a construir. Aquela carreira que só se constrói com muito esforço, com aquele esforço das 9h às 21h, com trabalho durante as férias (uma horinha ou duas, mas tem de ser, tem de ser!), mesmo que esteja menos tempo com o filho e com a mulher, porque é preciso esforço, é isso que precisamos, é esforço para sair da crise! E eu calei-me. A verdade é que tive vergonha de lhe dizer que mais facilmente dedicava todo aquele esforço a aprender a meditar ou a aprender a pintar a óleo do que a trabalhar para uma qualquer carreira, seja o que for que isso signifique, uma carreira.

Detesto a conversa da carreira. Não porque seja imune a ela. Porque também já estive tão cheia das mesmas ambições e porque todas me saíram furadas, a conversa incomoda-me. Neste momento não sei o que isso significa na minha vida. Não sei em que é que essas ambições se transformaram, mas a verdade é que se têm vindo a transformar noutra coisa qualquer. Trabalho 40h por semana numa coisa de que gosto, mas que seria muito feliz a fazê-la durante 20h semanais. Tenho ocupação para as outras 20h para o resto da vida. Interesses não me faltam, mas não me dão dinheiro, ou dão pouco. Não faço ideia como conseguir conciliar aquilo que gosto de fazer com aquilo que me dá dinheiro. Talvez não seja possível. Mas tenho a certeza de que não é a carreira que me vai fazer feliz. Será que seria mais feliz com aquelas 20h livres por semana? Nunca vou saber. Talvez essa seja a minha cenoura, enquanto para outros a cenoura é a carreira. Mas alguma vez a apanham?

Muitas das pessoas que conheço estão infelizes porque ganham mal e trabalham muito. E eu compreendo. Outros estão infelizes porque estão desempregados e tentam esticar o dinheiro com o milagre da multiplicação. Eu compreendo também. Mas também conheço pessoas que estão muito bem, têm trabalho, são bem remunerados, gostam do que fazem, têm dinheiro suficiente para comprar uma casa nova, para viajar, para viver perto dos filhos e estar presentes na vida familiar, mas continuam a não estar satisfeitos. Querem outro emprego. Querem ir viver para fora de Portugal. Querem ganhar mais. Querem...o quê? 

Do que é que andamos todos à procura afinal?

2 comentários:

  1. Conheço muitos casos assim. E não tenho a menor dúvida de que, muitos deles, são mais uma fuga do que uma procura. Uma fuga de encontrar um vazio e uma tentativa de preencher constantemente um saco que está sempre roto em vez de se ir lá remendar e perceber o que realmente falta. Há também quem diga que os constantes objectivos e metas é uma forma de negar a morte. E eu concordo.

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    1. Sim é isso. Um saco que nunca enche. Mas é uma questão social. Se não estás à procura de nada, algo tem de estar errado.

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Digo eu de que: