segunda-feira, 17 de agosto de 2015

God creates dinosaurs, God kills dinosaurs, God creates man, man kills God, man brings back dinosaurs.



Fomos ao Centro Ibérico de Recuperação do Lobo Ibérico. Há mais de 10 anos apadrinhei por pouco tempo uma loba e fiz-lhes uma visita rápida. Não vi lobo nenhum, mas ouvi-os uivar e é mesmo muito bonito. Desde aí tenho os seguido online e apoiei-os nas duas ultimas campanhas de crowdfunding para a aquisição do terreno onde estão.

Existem cerca de 300 lobos em Portugal. A maioria da população vive entre o Gerês e o Douro Internacional e vive razoavelmente, embora a espécie ainda se considere em perigo e por isso desde 1988 a lei protege-a, a espécie e o seu habitat, uma vez que pondo em risco uma, fica em risco a outra. Outra parte da população vive acima de Castelo Branco e está rodeada de auto-estradas, aquedutos, barragens, parques eólicos, fábricas, aldeias e vilas. Apesar da lei que protege os tais lobos e o tal habitat. Assim, rodeados de parafernália humana de todos os lados, a caça disponível ficou muito reduzida (outra vez a mesma história, que chatice, os bichos comem) e os lobos (que detestam estar próximos de pessoas) aproximam-se das vilas e caçam animais domesticados.

O centro acolhe cerca de 20 lobos. As alcateias que lá vivem já são de uma ou duas gerações à frente dos lobos que existiam quando lá fui a primeira vez. Alguns ninhadas são "permitidas", de forma a garantirem a manutenção do código genético, mas o objectivo do centro não é a reprodução porque o espaço que têm disponível para receber lobos para "recuperar" é limitado. Por isso e como no ano passado nasceram três lobos, vasectomizaram os lobos reprodutores. Em relação aos lobos que recebem, vêm de todo o lado. A guia contou-nos que tinham acabado de receber uma loba do Zoo de Lisboa que estava de quarentena. Sabiam que o Zoo tinha lobos? Ninguém sabe, porque não estão visíveis para visitas.

As alcateias no centro vão sendo organizadas conforme a dinâmica que os funcionários observam entre os lobos e organizadas segundo vários espaços separados por redes. Se um lobo começa a ser demasiado maltratado pela alcateia podem decidir colocá-lo noutro espaço. As alcateias observam-se pelas redes mas não têm contacto físico (pelo menos a maioria, mas fiquei com essa duvida). São territoriais por isso provavelmente o contacto seria agressivo. No entanto, quando uivam ouvem todas as alcateias, é um reconhecimento de vizinhos. A comida dada aos animais é os excedentes de carne de supermercados da zona que os oferecem ao centro. Os lobos sabem que são pessoas que os alimentam e por vezes aguardam junto às redes onde a comida é lançada, embora os funcionários o tentem fazer de zonas diferentes. Perguntámos porque não colocam espécies dentro do recinto que possam ser caçadas, como os lobos fariam no seu habitat natural. A guia respondeu-nos que não, porque eles defendem o bem-estar animal. Nunca iriam pôr um bicho num recinto pronto para ser comido por lobos em segundos. Quão hipócritas somos (incluo-me), não conseguimos ser responsáveis por pôr um veado dentro de um recinto com lobos, mas deixamos que uma vaca viva meia dúzia de meses em condições abjectas para que depois seja morta e esquartejada para ser dada de comer aos mesmos lobos. A ironia: ao lado, com um muro pelo meio (literalmente), a Tapada de Mafra. A Tapada tem veados, gamos, javalis, coelhos e afins, e como forma de controlar a população, permite caça em algumas épocas do ano. Adivinhem o que é que os lobos comem? Veados, gamos, javalis, coelhos e afins.

Concluo. Eu admiro, respeito e apoio todas as pessoas que dedicam o seu tempo a isto: tentar reparar os danos causados à Natureza pelo Homem. E eu entendo que é tudo muito complexo, e eu entendo a sensibilidade e eu entendo a enorme responsabilidade que têm nas suas mãos, mas também acho isto: nunca tivemos muito jeito para fazer de Deus e fazemo-lo demasiadas vezes. Mesmo quando tentamos corrigir o que está errado.

3 comentários:

  1. Gostei muito deste post, há tão pouca gente a falar sobre proteção animal com esta serenidade...

    (gosto muito de lobos)(os do Zoo dantes podiam ser visitados, agora só se veem do teleférico)

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  2. Falta só acrescentar que as caçadas são pagas na Tapada, sendo também uma fonte de receita para a mesma. Para além disso, os caçadores podem comprar a carne, ou seja há lucro com a actividade, o que poderá explicar em parte porque não utilizam esses animais como presa para os lobos do CRLI. E sim, concordo contigo: interferimos demasiado, na maior parte das vezes da pior maneira.

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    1. bom se até se paga para fazer caminhadas, mau seria se não pagassem para caçar. eu não sou bióloga, e entendo que tudo envolve uma grande complexidade, mas mantenho uma certa esperança em exemplos como o parque de Yellowstone onde inseriram os lobos e eles tiveram uma influência tão positiva em todo o ecossistema. quando faremos da natureza uma prioridade? não temos um país assim tão grande e os bocadinhos de verde que ainda restam não estão assim tão bem mimados como deviam pelas medidas governamentais.

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