terça-feira, 28 de junho de 2016

Come Together

do Xavier

Lembram-se daquele País orgulhosamente só, que acreditava que estaria eternamente livre dos problemas alheios se mantivesse as suas fronteiras hermeticamente fechadas, e que autorizava visitas de meia dúzia de estrangeiros por ano? Era um País muito pequenino, muito bonito, com pessoas muito boazinhas e chamava-se Tibete. Como podem calcular, pagaram um preço bastante alto pela parvoíce.

O que aconteceu no UK deixou-me perplexa, por várias razões.

Primeiro, o óbvio, a democracia é uma coisa maravilhosa, mas com uma condição indispensável que nos temos andando a esquecer: as pessoas têm que ser educadas, informadas, esclarecidas. Porque senão é só mais uma arma (e muito poderosa) para o efeito carneirada. Como foi. Só assim se explica que pessoas tenham afirmado que votaram no Leave porque achavam que o voto não contaria para o resultado final. É um bocado como votar no PAN por antipatia com o PS / PSD e ficar muito surpreendido quando se vê o amigo dos animais a chegar a Primeiro-Ministro. Só que aqui não há deputados para oferecer, era sim ou sopas.

É claro que várias promessas foram feitas, difundidas à moda inglesa e no dia a seguir ao referendo desmentidas com a maior cara de pau e de parvo possíveis. Mas ainda assim, não é preciso ser grande génio para perceber que, se alguém nos promete que "podemos comer o bolo europeu" e ter a mesma liberdade para circular bens e serviços, mesmo não estando na União Europeia (e pagando) e isto não nos cheira a esturro, é ingenuidade ou parvoíce, certo?

Em segundo, a imprensa. Eu que leio unicamente o The Guardian, escapou-me completamente o que se estava a passar nas capas dos jornais claramente apoiantes da campanha do Leave, com a enfatização dos dramas da imigração em detrimento de uma explicação clara dos prós e contras em partir. Não somos diferentes, basta lembrar-nos que o Correio da Manhã é o jornal que mais vende em Portugal. Será legítimo pedir também a responsabilização da imprensa que deixou alastrar mal entendidos ou devemos simplesmente partir do princípio que não se pode acreditar em tudo o que está escrito?

E depois, que unicórnio é esse, que 52% dos ingleses procuram? São dos Países que mais ganham com a União Europeia, negociaram várias cláusulas de excepção que os beneficiam, mantiveram a própria moeda que se mantem (ou mantinha) mais forte que o Euro, e ainda assim, acreditam que a União Europeia é uma prisão que os impede de exercer soberania? Que soberania mágica é essa? Que País passado é esse pelo qual tanto suspiram, onde todos eram livres, felizes, dinheiro jorrava a rodos e não havia imigrantes com quem o dividir? Parece-me que esse País nunca existiu. Afinal de contas, em que outro momento na História viveram simultaneamente paz e prosperidade económicas? Idade do gelo?

Por ultimo, a vida continua e a História também é feita de péssimas escolhas. Espero que não desate tudo em guerra civil. Eu ainda gostava de ir visitar a Cornualha e Stonehenge antes de haver porteiro.

4 comentários:

  1. Concordo, claro, com grande parte da tua reflexão. É incompreensível. E assustador.
    Mas em relação ao porteiro acho que não tens que te preocupar. É que a porta nunca esteve aberta, eles não fazem parte do acordo Schengen pelo que sempre houve controlo de fronteiras. E continuará a haver. O drama não será para os turistas mas para os imigrantes, que vão passar as passinhas do algarve. Eles precisam muito dos imigrantes - e não só nos empregos de baixo nível, também na investigação, por exemplo (pelo menos é o que tenho ouvido/lido).
    Vamos ver o que isto dá...
    Temos a UE não aprenda nada com esta saída e isso ainda me assusta mais do que tudo o resto.

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    1. Certo, mas entravas com cartão de cidadão, talvez agora seja necessário passaporte e teria de fazer um seguro de viagem em vez de me agarrar ao cartãozinho de saude europeu. É claro que depende dos acordos que se façam, mas acredito que alguns processos se compliquem.

      Eu tenho uma réstia de esperança que daqui saia alguma lição positiva para a Europa. Vamos a ver..

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    2. Sinceramente não acredito (em relação ao passaporte) mas tb não faço apostas. Todos esses acordos estão já feitos e não me parece que haja capacidade/vontade para mudar essas coisas.
      Em relação aos seguros é que não faço a mínima ideia...

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    3. Acho que ninguém faz ideia. E ninguém se chega à frente, arregaça as mangas e agarra a batata quente... Que vai dar trabalho, vai. E é trabalho ingrato.

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Digo eu de que: