quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Por metro quadrado

Falávamos ao almoço dos incêndios e do desespero de quem fica a correr perigo a tentar apagar o fogo. Dizia eu que pegava na gata e no fuschio, dizia adeus aos livros e vinha-me embora. Respondiam-me "então mas e a tua casa?". 

Vi algures que conforme fomos perdendo amigos fomos ganhando metros quadrados em casa. Em contrapartida lembro-me das sanzalas, onde a casa serve para dormir e para abrigar da chuva. Tudo o resto se faz na rua, em comunidade. 


Não que não empatize com o desespero da perda. Na verdade empatizo tanto que me tenho alienado de ver notícias. Mas quando dizemos que se perde tudo quando se perde a casa, não teremos já perdido? 

5 comentários:

  1. Talvez tenhas razão mas a verdade é que a casa é mais do "uma casa". Para muitos é sinónimo de vida, de memórias, de sacrifício, de independência. Para muitos é mesmo a única coisa que têm e a perspectiva de irem morar "de favor" (porque muitas vezes não há ordenados nem pensões) na casa de amigos ou família é sinónimo de derrota. Para mim perder a minha casa seria mau, claro, mas não iria depender de ninguém por causa disso, há seguros, um trabalho e força física para enfrentar o futuro. Perder a casa onde a minha mãe vive seria perder o passado, as memórias, seria vê-la a ela ter que ir para outro lado - e isso dói infinitamente mais. Ainda assim ambas temos outras hipóteses. Mas há tanta gente que não tem...
    Quanto à solidariedade, família e amigos, espero nunca ter os testar dessa forma.

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    1. O simbolismo de casa é muito querido. Ainda este ano os meus avós mudaram de casa, perdendo a ultima e derradeira casa da minha infância.

      Eu acho que o queria dizer é que o medo de perder tudo na vida não deve fazer perder a vida.

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    2. Tens razão. "medo de perder tudo na vida não deve fazer perder a vida." é isso.

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  2. Certamente que eu não ficaria no meio do fogo a tentar apagá-lo, era a primeira a largar a fugir e que se lixasse a casa... Mas compreendo a sensação de, de repente, descobrires que não tens nada - material evidentemente. Não deve ser muito fácil... Não só em termos de recordações, que muitas das coisas, normalmente as mais insignificantes, têm mas também porque provavelmente a conta no banco (o que sobrou) não tem grandes condições de readquirir nem o básico, quanto mais tudo.

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    1. Claro. Mas eu no fundo estava a reflectir também de mim própria. Não colocamos demasiada ênfase na casa e no que ela representa, ao ponto de acharmos que tudo perde o sentido quando perdemos esse objecto?

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