Há uma expressão inglesa muito curiosa, que é o silêncio grávido. É aquele silêncio cheio, tão cheio e pesado que ninguém consegue abrir a boca. Uma pausa, entre digerir o que foi dito ou o que aconteceu, e receber o que vem a seguir.
Tive aulas com um terapeuta de grupo cuja capacidade de permanecer em silêncio, durante as sessões mais bizarras de grupo, era anedótica. Quando finalmente o conheci pessoalmente já conhecia há muito a lenda. Percebi então que o seu silêncio não era despreocupado ou passivo, mas profundamente sábio e também um acto de fé: absoluta fé na capacidade natural das pessoas se relacionarem e irem acertando agulhas. Só interferia em casos extremos, quando achava que as pessoas estavam a fugir da análise. Na maioria do tempo permanecia calado e observador, com aquele ar "eu sei o que estás a fazer". Ou então não era ar nenhum, mas era eu que imaginava, também no meu silêncio grávido.
Eu pensava que estava preparada para o silêncio, até estar grávida. Manter o segredo da gravidez durante 3 meses não me foi natural ou fácil, ao contrário do que seria expectável na minha pessoa pessimista e reservada. Achei o silêncio castrador e anti-natura. Uma experiência esquizofrénica, forçando-me a viver em duas realidades paralelas, uma das quais só era real para mim e mais umas outras poucas pessoas, enquanto vivia e trabalhava noutra.
O silêncio dos três meses deve ser mais uma daquelas invenções modernas, uma forma asséptica de (não) lidarmos com a realidade de não controlarmos nada, uma forma estéril de não nos desiludirmos. Mas a vida tem uma infinidade de formas de nos magoar tramando-nos as expectativas, mesmo quando nos esforçamos por acreditar que não temos nenhumas.
Para os pais (homens) é demasiado fácil: no início é só uma ideia e é tão fácil não pensar nela. Para as mães, é diferente. Desde o início, nada fica na mesma: o que se come, o que se bebe, as consultas-exames-análises a marcar, os enjoos, a resistência física que começa a transformar-se na subida que se faz todos os dias, até a porra dos cremes, das tintas, dos vernizes: tudo relembra, em vários momentos do dia, que já é mais do que uma ideia. Independentemente do destino da gravidez, ela já é. E não é o silêncio que a anula.
Isso foi um anúncio formal ou só uma divagação? Parabéns! :)
ResponderEliminarUm anuncio mascarado de divagação :)
EliminarAdequado à época de Carnaval, então :) Mas o mais relevante eram mesmo os Parabéns! Espero que corra tudo bem.
EliminarSim e mascaramo-nos literalmente de anuncio! Demos a novidade no dia de carnaval :)
EliminarOh pá tão bom :)
ResponderEliminarParabéns :) tudo a correr maravilhosamente bem
beijinhos
obrigada :)))
EliminarIncrível a tua capacidade de escrita! Sempre tão assertiva, tão acertada. Gosto mesmo de te ler, embora raramente comente.
ResponderEliminarFico feliz com a notícia. Que corra sempre tudo bem :)
Obrigada :)) Comenta mais vezes, às vezes fico com a sensação que estou a "falar" sozinha :P
EliminarOh que fixe!
ResponderEliminarE a M aqui em cima tirou-me o que eu ia escrever. Só por si o anúncio já é uma cena mesmo fixe, mas ler a maneira como consegues expressar esses primeiros 3 meses, é igualmente fixe. É daquelas coisas que qualquer pessoa pode sentir, mas muito poucas são ca
... Capazes de expressar o sentimento em palavras.
ResponderEliminarObrigada :)))
EliminarNão sei se todas as grávidas se sentem assim. Tenho amigas que esconderam a gravidez durante todo o primeiro trimestre, só sabia o pai e a médica, às vezes os avós. Eu sempre achei que seria tranquilo manter segredo e que me sentiria mais protegida, mas na prática, senti o oposto. Ainda por cima a barriga está enorme! Ando há mais de um mês a rodar 3 ou 4 camisolas largas :D
Uma vez li uma blogger que dizia que achava que a regra do silêncio dos primeiros 3 meses era baseada numa premissa que não faz sentido: não contar a ninguém para que a desilusão de as coisas correrem mal não ser maior, mas se as coisas correrem mal não tens ninguém com quem partilhar a dor precisamente porque não contaste a ninguém... E a vida tem tantas (outras) maneiras criativas com que nos magoar, tão verdade :(
ResponderEliminarAnyway, parabéns e tudo de bom para vocês! :)
sank you :)
Eliminareu acho que o pior é que cria um tabu em relação aos abortos espontâneos. não são falhas de ninguém, é a natureza a ser sábia, como diz a minha médica.
Nunca tinha pensado nessa questão do tabu, mas vendo bem tens mesmo razão! Está subjacente a ideia da falha, da nossa já conhecida culpa (cartesiana).
EliminarEu também tenho uma amiga que anunciou aos amigos a gravidez logo às 7 semanas e explicou-nos isso mesmo: que na eventualidade de acontecer algo, ela preferia saber que pode contar com os amigos numa altura triste, do que não poder falar sobre isso com ninguém, ou ter de dar explicações muito mais aprofundadas. Numa altura triste, é bom saber que os nossos amigos estão connosco.
Eu desta segunda gravidez por acaso também, talvez inspirada por ela no íntimo, mas racionalmente por questões práticas (Fuschia, e no meu caso agora também era bastante difícil esconder a barriga, só se fingisse que estava a engordar de repente!), escolhi deliberadamente anunciar a gravidez no local de trabalho muito cedo. Para mim era pior ter de estar a ocultar o motivo de ausências para médicos e por causa dos enjoos e depois ver os olhares recriminadores quando passado uns tempos viesse comunicar a gravidez, como se durante algum tempo eu tivesse estado a mentir. Eu sei que é estúpido, e já ouvi uma professora de direito especialista na matéria afirmar categoricamente que nenhuma grávida é obrigada a comunicar a gravidez (a única consequência é só poder beneficiar do regime de faltas e direitos a partir da comunicação oficial), mas ainda assim, preferi não ter de lidar com constrangimentos, para além dos incómodos dos enjoos e outros da fase inicial.
Vinha dar os parabéns mas ainda na 3ª feira vi uma comediante dizer que quando estava grávida ouvia muitas vezes "congratulations!" e ela não percebia porquê, pois é muito mais difícil ter uma barriga lisa do que engravidar. :D
ResponderEliminarMuitas felicidades para vocês! :)
true :D e eu nunca a tive lisa!
Eliminarbjo
Muitos parabéns pela gravidez! E, a propósito do comentário aqui de cima, a barriga lisa está como a Merryl Streep, overrated! :D
ResponderEliminarP.S. - muitas vezes não comento pois parece-me tudo tão ponderado e claro que nada do que eu diga será mais que um grunhido
grunhido, tss tss que exagero
Eliminar:))
Que bom!! Muitas felicidades e que tudo corra bem. Vai correr, com certeza :)
ResponderEliminarOh pá!! Muitos parabéns!!! É pensar que vai correr bem e pronto. E vai!!
ResponderEliminarNa primeira gravidez tive imensos problemas que não me deixaram vivê-la em pleno. Hoje sinto um pouco de pena por não ter logo confiado que iria tudo correr bem.
Um grande beijinho.
(fiquei muito contente por saber)
:)))
Eliminareu acho que a vou vivendo mais em pleno desde que contámos a toda a gente. mas também se torna cada vez mais dificil de imaginar que possa correr mal. olha é o que tiver de ser :)
(parabéns a ti também :)))
Aimedês, aimedês, e eu que só agora vim por a leitura em dia, que notícia tão boa!
ResponderEliminarMuitos parabéns, e que seja doce e tranquila :)