terça-feira, 29 de julho de 2014

Os ciclistas irritam-me

Irritam-me quando não param nos sinais vermelhos (já vi), irritam-me quando não param nas passadeiras (já vi), irritam-me quando andam pelos passeios quando a estrada está demasiado cheia e não lhes interessa (já vi). Quanto a esta ultima, por mim podem andar no passeio, desde que transportem a bicicleta ao lado (como fariam numa subida) e que não utilizem o passeio como uma estrada desimpedida e à velocidade que lhes apetece, com peões a escassos centímetros. 

Não me debrucei muito sobre o assunto, acredito que hajam nuances, mas à partida não percebo porque deve ser sempre o seguro de um automobilista a pagar a despesa de um acidente ainda que ele tenha sido causado por um ciclista, com a justificação de que a bicicleta é “boa para a saúde, ambiente e economia”. Parece-me que se levar com uma em cima, estou-me perfeitamente a borrifar se foi bom para o ambiente e para a economia ou para a saúde dos restantes.

Muitos direitos poucos deveres é?

16 comentários:

  1. É uma luta do ACP, a obrigatoriedade de seguro de responsabilidade civil para os ciclistas. Era o que faltava vir um em contra-mão - já vi - lixar-me a lata e eu ainda ter de lhe pagar os danos. E se um ciclista atropela alguém, como é?

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    1. pois! é que concordo que ganhem direitos mas depois também me parece que querem ter os direitos de peões e automobilistas sem ter nenhum dos deveres.

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  2. Na Holanda a culpa é sempre do automobilista se bater num ciclista, como a culpa é sempre do ciclista se bater num peão, é uma forma de proteger quem está em situação mais frágil e de maior perigo, e, milagre, funciona. Já cá morreria de medo de andar de bicicleta porque não só não há condições, como não há qualquer respeito ou cuidado por parte dos automobilistas, a quem os ciclistas ainda por cima irritam muito...

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    1. bom irrita-me enquanto peão (não conduzo), suponho que a relação entre automobilistas e ciclistas sejam igual à que têm com os motociclistas: difícil.

      até pode funcionar e como disse, não me informei o suficiente sobre o assunto, mas à partida acho que a responsabilidade deveria ficar com quem provocou o acidente. se apanhar uma bebedeira e me atirar para a estrada e isso causar um choque em cadeia deveria ser responsabilizada por isso, independentemente de ter sido o condutor da frente a travar.

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    2. Na Holanda creio que a culpa será do ciclista se estiver bebedo ou se se provar que se atirou para cima de um carro de propósito, mas no geral a regra é que a culpa é do condutor e isso protege imenso os ciclistas, pq os automobilistas têm mais cuidado. Lá os ciclistas tb têm prioridade nas rotundas, etc.

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  3. Bom, a mim também me irritam os automobilistas que não respeitam os limites de velocidade, especialmente nas localidades, os que não param nas passadeiras, os que não respeitam o limite de segurança mínima lateral (metro e meio) e que me fazem razias, e por aí fora.

    Acho que a lógica deve ser a que a Luna menciona, a do respeito e cuidado maiores sobre o utilizador mais frágil (carro > ciclista > peão). Um ciclista deve ter obrigatoriamente muito mais cuidado com os peões e um automobilista muito mais cuidado com ciclistas e mais ainda com peões. É a regra muito simples de quem se aleija mais se houver um acidente tem que estar mais protegido. Consequentemente quem tem mais potencial de causar maiores danos deve também estar precavido para arcar com eles, daí a obrigatoriedade de seguro de responsabilidade civil nos automóveis que na minha opinião não faz sentido no caso das bicicletas (e que aliás não existe em parte nenhuma do mundo, a luta da ACP é uma luta pelo cheirinho a dinheiro, não pela segurança rodoviária).

    Aliás, curioso que numa pesquisa rápida pelo Google encontra-se inúmeras estatísticas que referem que dos acidentes entre automóveis e ciclistas, só numa percentagem bastante reduzida (entre 10% a 20% conforme os países) é responsável o ciclista pelo acidente. E não esquecer que, independentemente de quem é a culpa, num acidente desses quem sofre desproporcionalmente é o ciclista. Daí que o mesmo também tem (ou deveria ter) todo o interesse em conduzir de forma segura.

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  4. Luna: o nosso código da estrada foi revisto, para que os ciclistas tenham mais direitos na circulação.
    mas,
    Luna, D.S.
    na Holanda e em muitos países estrangeiros as vias estão preparadas para oc ciclistas, aqui não. E já conto pelos dedos das duas mãos as vezes que vi ciclistas a fazer infracções muito graves, como contra mão e passar vermelhos. Já tive três situações em que ia de carro e tive de fazer manobra evasiva ou travagem para não esbardalhar um ciclista em contravenção. Numa das situações apitei, abri a janela e aconselhei-o a fazer um seguro de vida, que assim não durava. Ainda tive de ouvir S. Exa a ralhar que não ia dar uma granda volta, quando descendo aquele bocadinho de rua em contramão lhe resolvia o trajecto. Pois. Podia até fazê-lo, com a bicla pela mão, e pelo passeio.

    Por isso, e para os ciclistas, devia vigorar a mesma regra que para os peões, quem tem culpa, paga ou assume os próprios prejuízos. Devo desde já dizer que há muitos peões com culpa da própria morte ou estropiamento: basta existir uma passadeira a 50 e não a utilizarem. E se os outros veículos são obrigados a seguro, também o devem ter os ciclistas. O bem jurídico protegido é a segurança rodoviária, e ser atropelado por uma bicla pode dar direito a tratamentos bem caros.

    Quanto à questão da protecção do 'elo mais fraco' não pode ser. Haver uma presunção de culpa aos ombros dos automobilistas é injustificável - até porque nós temos de provar conhecer o código para circular, os ciclistas não. Até gostava de saber se distinguem um stop de uma perda de prioridade...

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    1. Não defendo que um ciclista deva ser desresponsabilizado pelo danos que causar (tal como um peão não o é) mas daí a ser obrigatório seguro parece-me incrivelmente excessivo. Um automóvel, mais de uma tonelada, 50-120 km/h, tem um potencial destrutivo e mortal que uma bicicleta, 10-20 kg, 10-30 km/h, não consegue nem chegar aos calcanhares. Se juntarmos a isto a tal estatística de que só 10-20% dos acidentes carro-bicicleta são culpa do ciclista parece-me que o seguro obrigatório é um excesso de zelo injustificável e que decerto vai desencorajar o uso da bicicleta, em vez de o promover (bola de neve, quanto mais ciclistas mais incentivo à criação de ciclovias e afins, mais pessoas se sentirão seguros para se deslocarem de bicicleta, maior tolerância porque é mais normal).

      Li algures numa discussão sobre isto que a lógica holandesa era que a "responsabilidade objetiva" de um acidente era sempre, pelo menos parcialmente, do automobilista porque este escolheu conduzir uma máquina potencialmente mortífera. A tal lógica do "elo mais fraco" que francamente me parece bastante asseguradora da segurança de todos que faz com que quem conduz a máquina mais mortífera tenha o cuidado acrescido na estrada.

      Referes que as vias portuguesas não estão preparadas para ciclistas circularem como noutros países. Eu acho que isto não é tão mau como geralmente se pensa. A minha experiência bruxelense diz que a única adição que fizeram à grande maioria das vias para torná-las adaptadas a ciclistas foi pintar símbolos de bicicletas na estrada, poucas vias individualizadas existem. Em Portugal, acabei de fazer uma viagem de bicicleta pela costa e sinceramente fiquei bastante impressionada com a largura geral das estradas e tranquilidade dos condutores portugueses, e não me senti em nenhuma altura mais insegura do que na Bélgica (talvez a Av. Marginal tenha sido a exceção). Isto para dizer que Portugal é bastante mais "ciclável" do que se pensa, não há razão para que não possamos conviver todos na estrada. Uma estrada que continua dominada pelos automóveis, é bom não esquecer, por mais direitos que os ciclistas tenham adquirido no novo Código da Estrada.

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  5. Em relação à questão da responsabilidade objectiva, fiquei na ideia de que o seguro do carro cobriria os danos apenas numa primeira instância - em que depois, ficando-se provado que a culpa era afinal do ciclista, este teria de devolver o dinheiro pago pela seguradora.

    Acho que é mais por uma questão de as coisas se resolverem rápido do que por outra coisa, e certamente não uma questão de "a culpa é sempre tua mesmo quando sou eu a fazer asneiras".

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    1. bom, mas pelo menos não é isso que tenho lido. segundo a imprensa (vale o que vale), a responsabilidade objectiva implica que a responsabilidade será sempre do automobilista, ainda que a responsabilidade do acidente seja do ciclista e ainda que o seu seguro seja agravado (o que a mim me parece indiferente, o mais importante é o 1º ponto).

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    2. Se é isso o que a imprensa está a dizer então a imprensa deveria informar-se melhor. Pelo menos da maneira como expõem as coisas, até parece que se eu andasse por aí a enfaixar o meu velocípede contra o carro alheio que ele é que tinha de pagar tudo...

      A ideia, tanto quanto consegui perceber - e é sempre possível que seja eu a fazer algum erro de interpretação - é que se *assume* culpa da parte mais perigosa na colisão. Mas é uma *culpa* temporária na medida em que, se eventualmente se provar que a culpa não é do automobilista, o ciclista tem de prestar contas a pagar os danos à mesma (ou pelo menos uma boa fracção destes).

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  6. eu moro numa zona que é um chamariz para ciclistas (sesimbra -cabo espichel) mas que não está de todo preparada para tanta bicicleta, principalmente ao fim de semana. Não está sequer preparada para os peões porque não existem bermas/passeios.
    E já vi de tudo: condutores que irritam os ciclistas porque passam a menos de um metro das bicicletas ou porque cospem (verdade!) e deitam cigarros e outro lixo pela janela que acertam nos ciclistas e ciclistas que irritam os condutores porque andam na estrada como se andassem no meio do campo, com total desrespeito pela segurança rodoviária.
    A minha opinião é que cada um deve ser responsável pelas suas acções e a teoria do elo mais fraco não me convence.

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  7. No fundo acho que aqui as opiniões se dividem entre quem anda/andou de bicicleta como meio de transporte diário e quem não.

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    1. Nem acho isso (embora seja mais fácil cada um ser mais sensível ao que lhe está mais próximo). Mas também conseguia listar coisas que me irritam nos automobilistas e nos peões :P

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  8. A Wapy tem razão. Existem dois tipos de responsabilidade: pela culpa ou objectiva / pelo risco. Cria-se uma presunção de que, dada a perigosidade de determinada actividade, caso exista um acidente, a culpa é de quem exerce tal actividade. Mas admite-se o afastamento desta responsabilidade, provando-se que a culpa foi da outra parte. No caso ciclista / automobilista, este poderia afastar a responsabilidade objectiva caso existisse culpa do ciclista. E para haver culpa do ciclista - e a seguradora recusar pagar indem. - basta que o ciclista tenha cometido uma infracção, e o condutor não.
    Mas, cá na minha: quantos ciclistas não encartados conhecem o código da estrada? Ou os sinais, ao menos?

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  9. (já agora, não me choca existir responsabilidade objectiva do automobilista caso seja configurada nestes moldes; uma presunção de culpa inilidível é que não, tenham paciência)

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Digo eu de que: