Ela mostrava-nos o seu álbum de fotografias:
Olha eu no meu aniversário com 3 anos, aqui eu e a minha mãe (olha tens o nariz dela! sim, pois tenho!), eu e o meu pai a passear (também sou parecida com ele não sou? és sim. menos o nariz, o nariz é da minha mãe!), aqui eu e a minha prima, eu e o meu primo no baloiço (eras tão pequenina, eles devem ser tão crescidos agora!).
A mãe tão bonita e tão nova que vive a três estações de distância e não a vem visitar há anos, o pai que vive praticamente ao lado e nunca mais a veio ver sóbrio, os primos que nunca mais viu, o lar que nunca mais teve. E no entanto ali estava ela a mostrar-nos feliz todos aqueles bocadinhos.
Vai para uma família nova, uma família grande, com muitos filhos. Pela 3ª vez (nas anteriores as famílias desistiram dela a meio do processo de adopção). E ela estava feliz. Quem senão uma criança, para nunca deixar de acreditar que (ainda) tudo é possível?
Porra, pá. A vida é uma merda às vezes... :(
ResponderEliminarÉ triste para estes miúdos que têm já uma bagagem tão grande para levarem pela vida fora e triste para estes pais, que pelos mais variados motivos se perdem deles próprios, dos filhos e da vida.
EliminarMas é importante não perder a esperança de que vão ser felizes, eles pelo menos raramente a perdem :)
Pá. Pá.
ResponderEliminar(não consigo entender que haja quem desista a meio de um processo de adopção, quando a criança já lhes está confiada, e a fazer a integração no meio familiar. se devolver animais é uma crueldade, crianças é indizível. também devolveriam um filho biológico? tipo, afinal não tem o feitio que gostávamos? é complicado? saiu-me um burro / psicopata / depressivo /deficiente? que merda, pá. há qualquer coisa muito errada, nisto. e falo também dos serviços que fazem a triagem dos adoptantes, porque ou não os prepararam para as dificuldades que qualquer adopção implica - sim, as crianças trazem bagagem - ou então seleccionaram gente que não está preparada, não quer ter um filho e dedicar-lhe o amor incondicional que merece, querem é um objecto/projecto de caridade. basta ler umas merdinhas genéricas para saber que uma criança adoptada até pode passar uma fase de lua de mel em que é um anjinho, mas mais cedo ou mais tarde vai por os pais à prova, até porque precisa de saber que eles passam essa prova, e os querem para o melhor e o pior. e são capazes de os amar no seu pior, e mais: ser fortes por eles, discipliná-los por eles, e nunca lhes tirar o tapete. foda-se.)
pois, não sei que te diga.
Eliminareu sabia que haviam devoluções de crianças adoptadas, mas nunca pensei que fosse tão frequente. Eu lido com muito poucas crianças, não mais de 6 e todas elas já tiveram tentativas falhadas. Alguns mais do que uma. Alguns as famílias desistiram no ultimo dia, já no tribunal. Mas quando chegam a este ponto já houve fins de semana, férias em conjunto. É mais um abandono. Mas também é verdade que há miúdos que não facilitam e boicotam a integração na nova família, isso é ponto assente. Há pais que tentam tudo e não conseguem dar a volta. Não os quero julgar.
Mas há muitos mais que eu acho que não vinham preparados. Mesmo. Alguns vêm com a ilusão de que vai ser uma criança muito agradecida por ter sido resgatada da rua (uma espécie de cão, mas nas duas patas), e é o oposto. A dada altura zangam-se e querem destruir todos os laços, até porque na grande maioria dos casos os pais estão vivos e alguns manifestam de vez em quando a vontade de voltar a estar com os filhos para depois desaparecem durante meses ou anos, o que é muito violento e confuso. Há famílias que me parecem não ter parado para pensar um segundo sobre a decisão e sem negociarem o que a mudança pode implicar na dinâmica familiar. A dada altura desistem porque sei lá, o filho biológico começou a dizer que não queria um irmão coisa nenhuma. E aí eu acho que as instituições podem ter uma certa culpa. Acho que é importante preparar os pais e os filhos biológicos para a adopção e era importante que houvesse uma estrutura montada (que eu sabia não há, a não ser que os pais procurem terapia familiar no privado) para que estas famílias continuassem a ser apoiadas, porque é duro, estes miúdos são duros, a sério (eu fartei-me de levar porrada psicológica deles, não é fácil).