quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O naufrágio da humanidade

Hoje muitas pessoas se impressionam pela imagem da criança encontrada morta numa praia turca. Lamento que seja preciso verem uma criança morta para pararem por um momento de se questionar se cabem cá todos e se vêm com um plano de conquistar esta porra toda.

Ontem duas mulheres negaram sequer olhar para uma ucraniana que envergonhada por ter o bebé no carrinho aos berros, lhes pedia gentilmente que a deixassem passar à frente na fila. Nem o empregado quis enfrentar a fúria de duas senhoras muito cheias de si. Não é preciso ver uma criança afogada numa praia para perceber que a humanidade se afogou em algumas pessoas há muito tempo. E não é preciso salvar o mundo para salvar alguma coisa.

9 comentários:

  1. gostei muito da tua frase. "não é preciso salvar o mundo para salvar alguma coisa".

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    1. Tinha em mente uma frase da Madre Teresa: "Never worry with numbers. Help one person at a time, and always start with the person nearest you."
      Ás vezes um acto de bondade pode ser simplesmente olhar para uma mãe desesperada e deixá-la passar na fila do supermercado.

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    2. essa da fila é mesmo idiota, não sei em que supermercado foi, mas em todos os supermercado onde eu vou são os próprios funcionários da caixa que chamam as pessoas com bebés. Também já me aconteceu um senhor que ia só com um par de itens ficar chateado por eu passar à frente só porque tinha um bebé no carrier, mas eu estava na caixa prioritária, temos pena. Mas toda a gente à volta se indignou por o senhor ter dito "ah mas não custava nada eu passar primeiro com as minhas duas coisinhas".

      Enfim, isto já nem tem nada a ver com bondade

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    3. Não sei se faz sentido haver regras nestas coisas. Quer dizer, faz porque o senso comum não é comum. Eu tenho várias amigas que prescindiam da prioridade quando se estavam descontraídas, se o bebé estava distraído, se tinham pouca coisa, etc. E também é verdade que muitas pessoas se aproveitam da prioridade. Mas não é assim tão difícil de ver quando uma pessoa está carregada de coisas, aflita e envergonhada por ter um bebé a espernear no carrinho. Não era preciso sequer haver caixas prioritárias se as pessoas fossem mais empáticas. (ainda por cima a caixa prioritária estava fechada)

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    4. A questão nem é a vergonha por o bebé estar a chorar.... a questão é o interesse da criança, de não estar mais tempo do que o estritamente necessário num local não tão apropriado a crianças. Mas sim, claro que os próprios pais muitas vezes estão à vontade para prescindir da prioridade, eu também já o fiz, se vejo que estou com tempo até à próxima mamada ou para outro horário da criança e se ele não está desconfortável ou saturado. Temos pena mas é mesmo assim, as criancinhas primeiro.

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    5. mas já me estou a desviar do assunto principal do teu texto, que é bem mais importante que estas tricas na fila do supermercado e do que uns minutos a mais ou a menos que os nossos bebés (privilegiados face ao drama humano que as crianças e adultos refugiados estão a viver) passem no supermercado, estejam ou não a chorar, com um pouco de fome ou desconforto.

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    6. sim, nem tinha pensado nisso nessas questões, há coisas que me ultrapassam por não ser mãe confesso.
      eu não acho que nos estejamos a afastar da questão dos refugiados. precisamente as pequenas tricas do quotidiano são uma demonstração em pequena escala de como as pessoas realmente pensam.
      vai à caixa de comentários de notícias sobre ajuda a refugiados e não há uma em que não haja alguém a dizer "eu sou desempregado e a mim ninguém me ajuda".

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    7. sim, sim, são horríveis. Às vezes faço a asneira de ler os comentadores do Público. Na crónica que o Rui Tavares escreveu há dias sobre isto a maior parte eram comentários xenófobos e a dizer que "lá vem este com a mesma lenga-lenga". Mas essa crónica foi antes de ter aparecido a notícia do menino , daquela imagem muito partilhada, talvez algumas pessoas depois disso já não tenham coragem para dizer certas coisas

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  2. Primeiros, o caixa já arranjava um par deles e mandava as senhoras à merda. Além de que, por lei, tinha de dar prioridade à senhora com o bebé. Pá, espero nunca ter de assistir a uma cena destas, que sou menina para me passar dos carretos.

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